segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Livreto em forma de cordel informa população sobre o mal de Alzheimer

Versos simples, linguagem popular e palavras rimadas. A tradicional fórmula da literatura de cordel foi a arma escolhida pelo neurologista Gutemberg Guerra para ajudar a população no combate ao mal de Alzheimer. A proposta do médico foi fazer com que as informações sobre a doença, como sintomas e tratamento, fossem simplificadas e pudessem chegar ao maior número de pessoas. Em princípio, o livreto, intitulado A história da demência, será distribuído em unidades de saúde pública referências no tratamento da doença em Pernambuco.

De acordo com a Academia Brasileira de Neurologia (ABN), o Alzheimer atinge 7% da população entre 60 e 90 anos. O mal de Alzheimer é uma doença degenerativa que atinge os neurônios. Por fatores biológicos, a partir dos 30 anos o ser humano começa a perder as células responsáveis pela condução dos impulsos nervosos, mas é depois dos 60 que a situação costuma começar a ficar crítica. No Brasil, de 1999 a 2008, o número de pessoas acometidas pela doença aumentou vertiginosamente: passou de 1.343 para 7.882 — um aumento de impressionantes 486%.

A patologia altera a capacidade cognitiva das pessoas em funções como memória, linguagem e habilidades visuais e espaciais, provocando mudanças de comportamento. Em mais da metade dos casos os sintomas são ignorados pelos pacientes e pelos familiares.

Diretor clínico do Prontolinda e coordenador do Ambulatório de Neurologia Cognitiva e do Comportamento do Hospital Geral de Areias, Gutemberg Guerra descreve no livreto os 10 sintomas mais comuns da doença, em situações do dia a dia, partindo do esquecimento constante que começa a ser experimentado no início do Alzheimer. “O cordel é fruto das conversas nos consultórios. Retrata experiências de pessoas que vivenciam a doença diariamente”, disse o especialista.

A falta de conhecimento sobre a doença é apontada por ele como a principal causa do avanço do Alzheimer. “Existe muito material sobre a doença, mas todos com uma linguagem técnica, que acaba afastando as pessoas. Por isso a ideia do cordel, para colocar no popular uma doença tão séria”, explica Guerra. Em muitos casos, avalia, quando o paciente resolve procurar o médico a doença já se encontra em um estado muito avançado, tornando mais difícil o tratamento.

CONHECIMENTO Adquirir informações sobre o Alzheimer foi decisivo para garantir à dona de casa Maria Thereza da Silva, de 77 anos, e a suas filhas uma melhor qualidade de vida durante a convivência com a doença. “Descobrimos que minha mãe tinha a doença há seis anos. Notamos que ela estava esquecendo muitas coisas. Procuramos muitos médicos, até achar um que nos deu o diagnóstico definitivo”, conta uma das filhas, a aposentada Eliana da Silva, de 55. Ela sabe que o apoio familiar é fundamental para o controle do Alzheimer. “O mais importante é buscar informações para saber lidar com a nova realidade, pois só assim você poderá oferecer melhores condições para o paciente”, recomenda.

O mal de Alzheimer não é uma doença hereditária, mas o neurologista Gutemberg Guerra afirma que ter alguém da família com o problema aumenta as chances de que os parentes de primeiro grau também venham a ter a doença. É impossível de prevenir, mas pode ter os sintomas controlados. O tratamento da doença é feito com o uso de medicamentos, mas sobretudo com a integração de especialistas da área de terapia ocupacional, geriatria, fonoaudiologia, neuropsicologia e enfermagem. “O cérebro depende de um ambiente estimulante, ou seja, não são só os remédios, mas o cuidado integrado que faz a diferença no sucesso do tratamento”, diz o neurologista.

ALZHEIMER NO BRASIL
De 1999 a 2008, o número de vítimas no país passou de de 1.343 para 7.882 — um aumento de impressionantes 486%.

Sintomas
Perda de memória de curto prazo
Dificuldade de concentração
Desorientação de tempo e espaço
Dificuldade em reconhecer e identificar objetos
Problemas de linguagem e dificuldade de fala
Dificuldades na execução de movimentos
Incapacidade para julgar situações
Perda de iniciativa
Agressividade
Delírios

Fonte: Academia Brasileira de Neurologia (ABN)

TRECHOS
A história da demência


No passado se dizia
Do sujeito adoentado
Que o cristão ficou gagá
Caduco ou esclerosado
Que era coisa de velho
Não era pra ser tratado

Mas demência é doença
Não é coisa que se inventa
Vai chegando devagar
Que o sujeito nem comenta
Quando vê já tá trocando
Nota de cem por cinquenta

(…)

A patroa pela casa
Não lembra de apagar a luz
Esquece feijão no fogo
Faz ganância no cuscuz
Bota sal na goiabada
Perde mais do que produz

Paga conta duas vezes
Ou esquece de pagar
Compra do que não carece
Farinha deixa faltar
Guarda roupa no fogão
Depois não sabe onde está

Autor: Gutemberg Guerra


7% - Índice da população brasileira entre 60 e 90 anos que sofre com o mal de Alzheimer, segundo a Academia Brasileira de Neurologias

30 anos - Idade a partir da qual os seres humanos começam a perder neurônios (embora a situação só comece a ficar crítica a partir dos 60)

FONTE: DIARIODEPERNAMBUCO.COM.BR - 04/10/2011

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